Colonização Portuguesa
No período pré-colonial, as costas brasileiras passaram a ser exploradas apenas a partir dos anos de 1501 e 1502. Ainda havia descaso de Portugal com relação à nova terra: o comércio com as Índias era mais vantajoso e menos dispendioso. Enquanto o povo das Índias já possuía uma tradição comercial, baseada em especiarias já acabadas enquanto produtos, o índio no Brasil realizava suas atividades econômicas apenas para sua subsistência. Portanto, toda a mercadoria no Brasil exigia trabalho do português em sua extração.
O pau-brasil era o objeto de atividade de extração para fins comerciais: pouco foi aproveitado dos demais recursos em estado natural neste primeiro período. A exploração imediata do pau-brasil caracterizou-se pela extração predatória, pois o único trabalho que o português empregava nesta atividade era o corte e o transporte das árvores. Mais tarde, nos anos de 1515 e 1516, as expedições à Terra de Santa Cruz tornaram-se mais frequentes e de maior importância. A fase anterior tratou-se de expedições também destinadas à pesquisa geográfica, ao passo que estas novas expedições já caracterizavam-se pelo interesse comercial e também pelo intuito de asseguramento do domínio colonial contra os corsários. Desta forma, pouco a pouco foi propiciado o melhor conhecimento da costa brasileira. Foi mínima a ocupação portuguesa nos primeiros anos após a descoberta da nova terra por Portugal. O perfil dos primeiros habitantes portugueses em solo brasileiro é referente aos chamados degredados: o severo conjunto de leis manuelinas foi responsável pela condenação, por vezes injusta, de muitos portugueses ao degredo.
De qualquer forma, o número de habitantes portugueses em território brasileiro era mínimo em relação aos quase dois milhões de índios aborígines. Foi no ano de 1531, com Portugal sob o reinado de D. João III, que a política colonialista portuguesa em relação ao Brasil passou a tomar novos rumos: a expedição de Martim Afonso de Sousa ao Brasil manteve os objetivos das expedições anteriores, porém acrescentando-se a tais objetivos a efetivação da ocupação portuguesa em solo brasileiro. Portanto, a expedição de Martim Afonso de Sousa é tomada como o marco do início do processo de colonização portuguesa no Brasil.. À orientação econômica geral que as metrópoles passaram a seguir em sua busca por terras que oferecessem vantagens comerciais é resumida no conceito de mercantilismo.
Essa orientação, que na verdade nunca obtivera como origem uma formulação científica, baseava-se em preceitos como: o acúmulo de riquezas através da detenção de metais preciosos, o que garantiria o poder econômico do Estado; o desenvolvimento manufatureiro como exclusividade da metrópole; a garantia dos domínios comerciais no exterior; o superávit da balança comercial, que originou políticas protecionistas e intervencionistas por parte dos estados. O conceito mercantilista teve projeção no processo de colonização da América paralela e contraditoriamente à projeção de certas características do mundo feudal em extinção, como pode ser observado na futura organização da colônia em capitanias.
Após a segunda missa celebrada no Brasil, em 01/05/1500, dia dos apóstolos, Frei Henrique subiu numa cadeira em frente ao altar e pregou sobre o Evangelho e sobre os apóstolos, com nativos chegando e saindo do local de pregação. Finda a pregação, Nicolau Coelho passou 40 ou 50 crucifixos de estanho ao Frei Henrique. Sentado ao pé da cruz da segunda missa, o frei fez que cada nativo beijasse o crucifixo e levantasse as mãos, antes de receber cada crucifixo que foi atado ao pescoço dos nativos com um fio. Os crucifixos eram “sobras da outra vinda de Nicolau”, como relatou Caminha.
Em torno das 13 horas, os portugueses voltaram às naus para comer. Depois de beijar a cruz perante os nativos, Cabral levou consigo o nativo de 50 ou 55 anos que motivara os outros nativos a prestar atenção à missa e um irmão dele, segundo Caminha.
Cabral fez muita honra ao nativo e deu-lhe uma camisa mourisca. Ao irmão dele (“do nativo, leitor; do nativo”, como diz o Gabiru), deu uma camisa comum.
Depois de um momento de tensão seguido de atos de amizade entre nativos e portugueses, estes voltaram a suas naus para almoço, como disse Caminha, “sem dar mais opressão aos nativos”, tocando gaitas e trombetas. Os nativos ficaram sentados na praia.
Após o almoço, Cabral reuniu todos os capitães em sua nau, onde perguntou se lhes parecia bem mandar a notícia do achamento da terra ao rei Dom Manuel, posto que logo seguiriam para a Índia. Cabral perguntou também aos capitães se lhes parecia bem aprisionar 2 homens para mandar ao rei, deixando no Brasil 2 degredados.
A proposta de enviar a notícia foi aprovada pela maior parte dos capitães, mas a proposta de levar 2 nativos foi reprovada, “porque ninguém os entenderia”. Concluíram que deixar 2 degredados seria bom, porque poderiam passar informações futuramente. Além disto, “o escândalo do aprisionamento de 2 nativos dificultaria a futura tarefa de amansar e pacificar os nativos” escreveu Caminha, demonstrando que estava apenas começando uma série de atos de desrespeito aos direitos humanos, de extermínio de uma cultura e de um povo que o próprio Caminha atestou ser feliz e saudável.
Quando os últimos portugueses voltavam para suas naus no dia 25, alguns nativos apareceram e acenaram para que voltassem à praia. Os portugueses voltaram e lá encontraram o degredado Afonso Ribeiro, sendo devolvido juntamente com tudo que havia levado para doar a um Senhor’ que por acaso encontrasse: uma bacia pequena, 2 ou 3 carapuças vermelhas. Bartolomeu Dias fez o degredado Afonso voltar para doar os presentes; ele voltou e doou a um velho que o agasalhara. Era um velho enfeitado com penas pegadas em todo seu corpo, como setas de São Sebastião’.
“Haviam outros que traziam carapuças de penas amarelas, vermelhas, verdes. Nenhum era fanado, todos eram fortes. Havia uma moça toda tingida, de baixo acima, de corpo tão bem feito e redondo, com sua vergonha tão graciosa, que faria vergonha a muitas mulheres portuguesas por não terem a sua como a dela”, disse Caminha.
No dia 25 de abril, pela manhã, a esquadra cabralina levantou vela e navegou uma légua, até o Porto Seguro, (em nossa tese, `até o espaço entre o recife de corais e a Praia do Cruzeiro’) tendo Caminha classificado a entrada do porto como “mui larga e alta de 6 a 7 braças”. Todas as naus entraram no porto, ancorando de 5 a 6 braças. “Ancoragem tão grande, formosa e segura que nela podem abrigar-se mais de 200 navios e naus”, relatou Caminha.
No Porto Seguro houve nova reunião entre os capitães. Depois de dar a cada mancebo que dormiu na nau uma camisa nova, uma carapuça vermelha e um rosário de contas brancas de osso, Cabral mandou Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias levá-los à terra, e que os deixassem ir com seus arcos e setas. Os mancebos foram com os rosários nos braços, junto a seus cascavéis e suas campainhas.
Nenhum dos nativos ou nativas que se apresentaram aos portugueses no período de 12 dias de contato descritos por Caminha, usavam qualquer tipo de roupa, mesmo se tratando de dias frios. Eles usavam nos beiços bicos de osso’ comparados a torres de xadrez. Alguns usavam até 3 bicos e os que se apresentavam sem os bicos de osso preenchiam o buraco do beiço com espelho’ de pau parecido com borracha.
Faziam tantos ruídos que as vezes não se ouvia ninguém.
Como pintura do corpo, andavam `quartejados’ com metade da própria cor e metade preto-azulado, como tabuleiro de xadrez. Usavam também a cor vermelha nas pinturas do corpo, e quanto mais se molhavam no rio ou no mar, mais a tinta brilhava.
A Carta revela que, no dia 25 de abril, entre eles apareceu pela primeira vez 3 ou 4 moças, `bem moças e gentis’, com cabelos pretos e compridos até os ombros, com suas vergonhas fechadinhas e raspadinhas.
Depois da algazarra feita pelos índios durante a pregação que sucedeu a primeira missa celebrada no Brasil, no dia 26 de abril, 4 ou 5 nativos entraram em 2 ou 3 almadias (canoas), permanecendo bem perto da praia. As canoas eram feitas com apenas 3 traves atadas entre si.
Finalizada a pregação os portugueses entraram nos batéis com a bandeira alta e por ordem de Cabral passaram ao longo da praia onde os nativos estavam, com Bartolomeu Dias na frente, levando um pau que o mar tomara de uma das canoas dos índios. Os nativos entraram n’água até onde puderam caminhar, e diante do pedido dos portugueses, alguns voltaram à praia e pousaram seus arcos, outros não.
Um nativo falava muito aos outros, acenando que se afastassem, mas os outros não lhe acatavam nem pareciam amedrontados. O nativo que acenava para o perigo portava arco e setas; tinha tintura vermelha no peito, nos ombros, quadris, coxas e pernas. Caminha observou que no estômago e na barriga não havia tintura.
Um português saiu do esquife de Bartolomeu e andou entre os nativos sem ser implicado. Os índios deram cabaças de água aos portugueses, acenando aos dos esquifes para que saíssem em terra.
Parece que só um entendeu o que aconteceria a todos no futuro.
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